domingo, 3 de janeiro de 2010

No velório coletivo, a dor dos familiares de vítimas de deslizamento em Angra

agencia estado
Um novo deslizamento de lama na encosta destruída do Morro da Carioca, na região central de Angra dos Reis, provocou pânico entre os moradores e fez com que o trabalho de resgate das vítimas e remoção dos destroços fosse interrompido por meia hora, na tarde de ontem. Mas tudo não passou de um susto, de acordo com o comandante do Corpo de Bombeiros na cidade, coronel Jerri Andrade Pires. O bairro foi um dos locais mais atingidos pelas fortes chuvas que castigaram a cidade desde o fim do ano. O número de mortos confirmados no Morro da Carioca é de 13 pessoas. Mas ainda há seis desaparecidos.

"Umas meninas começaram a gritar quando viram barro escorrendo por ali. O pânico tomou conta e achamos melhor suspender os trabalhos até ter certeza de que tudo estava bem", explicou o coronel.

O Morro da Carioca foi o cenário de duas das mais trágicas histórias que abalaram Angra dos Reis. Duas famílias foram praticamente dizimadas com o desmoronamento de terra ocorrido na madrugada do dia 1º. Ontem, durante o velório de 16 das 41 vítimas já confirmadas, que aconteceu em uma escola pública, Stephanie Carvalho Narciso, de 16 anos, vagava entre os caixões de sua mãe e irmãos.

Sob o efeito de calmantes, ela mal conseguia explicar que só escapou do desastre porque foi com o namorado para uma festa de réveillon no bairro do Belém. Stephanie perdeu a mãe, Maria de Fátima Narciso, de 39, as irmãs Stefânia, de 14, Poliana, de 9, Raiane, de 7, e Kailane, de 6. Seu pai, José Eduardo Narciso, e seus irmãos Carlos e Henrique estão desaparecidos. "Não tenho mais nenhum parente. Não paro de chorar e de tomar calmantes", disse.

Na mesma casa em que morreram parentes de Stephanie estavam primos de Rio Claro, município vizinho a Angra. Aparecida das Dores Emídio de Carvalho, de 38, e seus filhos Rafael, de 19, Mateus, sem idade divulgada, Izabela, de 6, Luciana, de 21, e David, de apenas 8 meses, morreram. Alessandra está desaparecida.

Também nesse caso, apenas uma sobrevivente foi chorar seus parentes no velório. Fabiane, de 22 anos, havia saído para uma outra festa de fim de ano e escapou do mesmo destino da família. "Nossas famílias iam passar a virada de ano juntas. Viemos só para isso. Agora, não sobrou mais nada", chorou, abraçada ao caixão da mãe.

A esperança de encontrar sobreviventes já não existe mais entre os vizinhos no Morro da Carioca. O que não foi destruído pela força do desabamento está atolado de lama. Até o início da tarde, mais quatro corpos foram retirados do local. Dois deles - uma mulher e uma criança - já haviam sido localizados na sexta-feira, mas só foram retirados ontem. Outros dois foram encontrados pelos bombeiros nos escombros na manhã de ontem. Ainda não há informações sobre a identidade dessas vítimas.

No fim da tarde de ontem, os corpos das vítimas começaram a ser enterrados no cemitério do Belém, distrito de Angra dos Reis. Foram sepultadas sete vítimas. Todos eram moradores no Bananal. Os mortos são Osmênio Arlindo Pereira, de 68 anos; sua mulher, Luciléa de Brito Pereira, de 52; os filhos do casal, Leonardo de Brito Pereira, 22; Leandro de Brito Pereira, de 18; a filha do primeiro casamento de Osmênio, Cremilda de Jesus Pereira, de 42, e a filha de Cremilda, Aline Pereira Brito, de 22; e um vizinho da família, Valci Brito dos Santos, de 54. Outra vítima, Gabriela Pereira de Brito, filha de Cremilda e irmã de Aline, foi levada para o Instituto Médico-Legal (IML) do Rio.

Estrada fechada

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) decidiu pela interdição por dois meses da Rodovia Rio-Santos, na altura do quilômetro 477, um dos principais acessos à entrada do município de Angra dos Reis. O motivo seria uma trinca que apareceu na estrada. O supervisor do DNIT, Wanderson da Silva, acrescentou que as obras de contenção ao longo da estrada podem durar em torno de seis meses.

No início da noite, a prefeitura de Angra tentava entrar em negociações com o DNIT para impedir a interdição total da Rio-Santos. Com o fechamento da estrada, a opção para ir para Angra, partindo do Rio, é a RJ-155 (Lídice-Rio Claro).

Mortos confirmados

Na Pousada Sankay
Yumi Faraci, 18 (filha dos proprietários Geraldo e Sônia Faraci)
Isabela Godinho Rocha, 20
Paulo Henrique Barbosa Sarmento, 27

Nas seis casas vizinhas atingidas pelo deslizamento:
Casa 1
Roseli Marcelino, 34

Casa 2
Osmênio Arlindo Pereira, 68
Luciléa de Brito Pereira, 50
Leandro de Brito Pereira, 18
Leonardo de Brito Pereira, 22

Casa 3
Cremilda de Jesus Pereira, 42
Aline Pereira, 22 (filha de Cremilda)
Gabriela Pereira, 12 (outra filha)
Wellington Hadama, 23 (noivo de Aline)

Casa 4
Valci Brito dos Santos, 54
Maria da Graça Reis dos Santos, 60 (mulher de Valci)
Marcelo Reis dos Santos, 30 (filho do casal)

Casa 5 (grupo de Arujá)
Márcio Luiz Baccin, 31
Cecília Secco Baccin, 30 (mulher de Márcio) - grávida de 6 meses
Giovane Secco Baccin, 3 (filho do casal)
Ricardo Ferreira da Silva, 30 ou 32 Natália Costa Pacheco, 24, (noiva de Ricardo)
Rafaela Souza, 8 anos
Keller Simão Neves, 35
Gustavo Neves, 10 (filho de Keller)
Joyce de Melo Yamato, 30 anos

Casa 6
Geovava Ribaski Repetto, 12
Gabriela Ribaski Repetto, 9 (irmã de Geovana; os pais das meninas, Marcelo e Cláudia, estavam hospitalizados até ontem à noite)
Renato de Assis Repetto, 53
Ilza Maria Roland, 50 (mulher de Renato)

No Morro da Carioca, centro de Angra

Maria de Fátima Carvalho, 39
Stefânia Carvalho Narciso, 14
Poliana Carvalho Narciso, 9
Raiane Carvalho Narciso, 7
Kailane da Silva Narciso, 6
Olavina Eloi Souza Marques, 82
Izabela Emídio de Carvalho, 6
Luciana Emídio de Carvalho, 21
Rafael Emídio de Carvalho, 19
Mateus Emídio de Carvalho
Aparecida das Dores Emídio de Carvalho, idade desconhecida
David Lucas Emídio de Carvalho, 8 meses

Fonte: folha vitoria.

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