sábado, 27 de novembro de 2010

‘Eu não tenho que estar desesperado para lançar minha candidatura a prefeito agora’

Uma das caras novas que chega à Assembleia em 2011 é o republicano Glauber Coelho. No terceiro mandato de vereador, Glauber Coelho é advogado e pós-graduado em Gestão Pública.

Glauber é novo na Assembleia, mas tem cerca de 15 anos de atuação política, inclusive na Câmara de Vereadores e como secretário municipal nas gestões de Thedorico Ferraço e Roberto Valadão na prefeitura de Cachoeiro.

Com o nome cotado para dis

putar a eleição de 2012 no município, Glauber diz que quer disputar a eleição, sim, mas não sabe se o mom

ento será 2012. Mas, delegado pelo presidente do PR no Estado, Neucimar Fraga, para reorganizar o PR e o PRB no sul do Estado, garante que participará efetivamente da eleição, mesmo que não encabece uma chapa.

Em entrevista a Século Diário, o deputado eleito fala sobre sua expectativa quanto à nova Assembleia, à atuação da bancada e às demandas de sua região. O republicano analisa ainda a administração do petista Carlos Casteglione e do cenário para 2012 no município.

Confira a entrevista de Glauber Coelho a Renata Oliveira e Rogério Medeiros:

Século Diário: – Como será sua atuação na Assembleia? Qual a sua e

xpectativa da chegada na Casa em 2011?

Glauber Coelho: – A minha expectativa é muito grande, até porque eu tenho trabalhado ao longo dos anos para atingir parte dos objetivos, parte de uma meta e essa parte nós conseguimos atingir agora. Eu tenho militado na vida pública há 15 anos, já estou em um terceiro mandato de vereador em Cachoeiro de Itapemirim.

- Começou cedo, então, de calça curta?

- De calça curta. Mas nesse período

tive a oportunidade de conviver com duas lideranças antigas, duas raposas políticas. Uma é o deputado estadual Theodorico Ferraço (DEM). Fui vereador ao lado de Theodorico Ferraço e fui secretário de Agricultura, Meio Ambiente, Defesa Civil e Criança com Ferraço. E com o ex-prefeito Roberto Valadão (PMDB) eu fui secretario municipal de Saúde. O pouco de experiência que a gente tem e em uma terceira tentativa de ingressar na Assembleia Legislativa, nós conseguimos lograr êxito agora.

- E quais as necessidades da região?

- A gente que é do interior tem necessidades parecidas com as da Grande Vitória. Hoje quais são os maiores problemas que encontramos lá e que vamos defender na Assembleia? Meu pai é diretor de um hospital. Eu fui secretario municipal de Saúde e eu conheço um pouco dessa realidade. Se vocês forem agora aos três hospitais de Cachoeiro, Evangélico, Infantil e Santa Casa, os leitos dos três hospitais, quer sejam eles do SUS ou particulares, estão completamente aba

rrotados. Mesmo sabendo que os investimentos foram muitos ao longo dos anos, mas a demanda populacional está crescendo muito e vai crescer ainda mais com esses investimentos que estão

sendo feitos agora em Anchieta e em Presidente Kennedy.

- Isso vai impactar em Cachoeiro...

- A população nossa vai inchar porque somos polo, talvez de uma forma ordenada ou desordenada, mas vai crescer. E nós, que temos hospitais que são referência nos 32 municípios do sul do Estado, mais leste de Minas, mais norte do Rio de Janeiro, não estarremos preparados para suportar toda essa demanda, se não houver um investimento maciço e ampliação de leitos nos hospitais. Outro ponto é o número de pessoas que estão nas filas de espera aguardando as cirurgias eletivas nos três hospitais... é absurdo, é tamanho. Terceiro ponto: é muito mais barato e menos doloroso você investir no preventivo, na atenção primária, na atenção básica, na estratégia da Saúde

da Família, do que na saúde secundária e terciária. Tem que se investir mais no preventivo do que no curativo. Os programas de Saúde da Família, 70% quem banca são os prefeitos com seus parcos recursos e 30% é a União... já existem algumas unidades da Federação que o governo do Estado dá o aporte financeiro para ajudar no custeio, é uma tese que vou defender, porque eu vivenciei essa realidade. Eu sei o que é essa falta de recursos.

- O senhor foi gestor dessa área.

- Eu fui gestor público. Agora, um outro detalhe, que a gente tem ouvido muito. O que adianta ter uma saúde de qualidade? Lá na roça, lá no distrito, o que adianta o investimento na saúde se você não tem estrada para transitar com a ambulância? O que adianta você ter uma educação de qualidade se o transporte escolar não tem sua trafegabilidade normal, porque você não tem estrada e não tem ponte? Como você vai escoar a produção de mármore e granito, de hortifrutigranjeiro, seja o que for de

produção agrícola, se você não tem estrada? Então se precisa olhar ainda mais para esse viés. São situações que a gente identifica no dia a dia e que quer levar para ser debatido na Assembleia. Durante a campanha, o que eu mais ouvi no interior não foi saúde, não foi estrada...

- Foi segurança?

- Também não. Telefonia rural e acesso à Internet nas localidades do interior. Eu acho um dado impressionante porque achava que saúde e segurança ficariam em primeiro lugar.

- Querem inclusão...

- Querem inclusão digital. São temas que a gente vai defender, vai reivindicar, vai pedir. Agora, uma preocupação grande que eu tenho é com a falta de representatividade. O sul do Es

tado continua sem representatividade em termos de quantidade. Enquanto o norte elegeu seus 11 deputados, a Grande Vitória com 17 e o sul continua com dois.

- E dois de Cachoeiro...

- Dois de Cachoeiro. Ao mesmo tempo em que você tem um campo aberto para fazer um trabalho, sem muita disputa política, de certa forma também é ruim porque se cria uma expectativa muito grande em cima de somente dois. Uma região que tem 32 municípios.

- Não teria tanto peso político quanto o norte.

- Exatamente. Agora a gente chega com muita cautela, ouvindo mais do que falando, até porque vou conhecer uma realidade que eu não conheço. Respirar um ar que até então eu não respirava. Então, acho que a motivação, a dedicação é grande. Estou muito animado.

- Mas vocês têm agora um governador que é do sul do Estado. Isso facilita?

- Muito. Teoricamente, sim. E temos do

is senadores que iniciaram suas vidas políticas na cidade de Cachoeiro... se você colocar na balança, não deixa de ter um contrapeso.

- É interessante o deputado eleito

colocar esses problemas, porque o governo Paulo Hartung vem afirmando que investiu muito na saúde, na educação e na segurança, mas na questão da saúde, no sul do Estado, faltam investimentos. É isso? Inclusive o deputado Thedorico Ferraço vem cobrando os investimentos no hospital...

- No hospital de Aquidaban, que é a menina dos olhos dele. Se eu disser que não houve investimentos, eu vou estar mentindo, até porque meu pai dirige um hospital e eu sei dos investimentos que foram feitos lá agora. Só que precisa mais e o recurso local tem que ser ainda melhor administrado. Hoje os três hospitais em Cachoeiro em termos de gestão hospitalar eles são referencia. Tanto que o Hospital Evangélico hoje gerencia e administra o Hospital Santa Helena de Itapemirim, que abrange toda a região litorânea sul, e o hospital de São José do Calçado, por causa da competência e do preparo na gestão hospitalar.

- Em Cachoeiro está havendo uma renovação política. Mesmo que pese a má gestão do prefeito Carlos Casteglione, há uma renovação. É evidente que Ferraço sobrevive porque ele é um político que sabe criar um processo em favor dele. Valadão encerrou. Ele deve ser um referencial no confronto com esses novos atores políticos, que estão chegando à arena, porque tudo indica que ele terá que enfrentar a eleição com o Casteglione e com o senhor. Como ficaria nesse processo?

- Quando terminou a eleição, pela ligação que eu tenho com o Ferraço, respeito e carinho que eu tenho com ele, eu o procurei e disse que quem praticamente me lançou na vida pública foi ele. O pouco que aprendi nesse tempo, aprendi um pouco com ele também. Fomos adversários na eleição, agora, mas passou. Agora o trabalho tem que ser em conjunto. Mesmo sabendo que ele é uma águia e eu sou um coelho. Mas pela própria experiência de vida eu acho que seria bonito se aquela imagem que ainda perdura em Cachoeiro de que se somos de partidos diferentes somos rivais, um não fala com o outro, se isso fosse colocado de lado. O sentimento da minha parte para com ele e dele comigo é muito bom, muito bacana. A gente tem conversado muito e tem se entendido muito. Não sei se Cachoeiro é prioridade para ele hoje.

- Mas isso é só por dois anos, não é? Quando chegar a eleição, vocês vão estar em campos opostos. E se os dois caminharem juntos?

- É. Pode ser...

- Tudo é possível. Será que ele arriscaria mais uma, se não tiver certeza de que vai dar um tiro para acertar o alvo? Não sei. Se vocês somarem a votação que ele teve com a votação que eu tive... Nós temos hoje mais de 50% do eleitorado cachoeirense. E essa tese do ferracismo, da grife, é correta, quem vota no Ferraço é fiel. O Casteglione pode fazer a administração que ele quiser, pode transformar a cidade no maior canteiro de obras do Brasil. Quem é Ferraço vota no Ferraço porque adora o Ferraço, porque é apaixonado nele e se ele perder, será por muito pouco. Eu estou começando a vida pública agora, e esses 12 mil votos que nós tivemos lá, a gente sabe que vai ter um peso muito grande na eleição, mas eu estou novo. Não é hipocrisia da minha parte. Eu não tenho que estar desesperado para lançar minha candidatura a prefeito agora. Eu estou montando uma equipe de trabalho muito boa, só que o momento que eu vou viver agora é diferente do interior, então vou precisar de outros profissionais e a visão é completamente diferente. É mais ampla. Estou focado em um mandato de deputado estadual.

- Mas o seu partido conta com sua candidatura, não?

- É claro que vou sofrer uma pressão partidária, mas isso não está no meu coração, não. Uma certeza eu te digo: eu quero participar efetivamente do processo político municipal. Esse detalhe de encabeçar chapa, compor chapa, é um detalhe que na hora certa será discutido, mas meu coração não está focado nisso agora, não. Eu estou novo, e quero conhecer isso aqui, viver isso aqui, quero aprender aqui.

- E como o deputado eleito está vendo a Assembleia, que vive um de seus piores momentos?

- Acho que o parlamentar não pode perder a sua visão crítica, até porque nem toda crítica é destrutiva. Crítica construtiva deve ser feita em todos os lugares. Entendo que o Renato é um parlamentar, conhece esse mecanismo, veio do parlamento e acho que ele é bem aberto para esse tipo de questão. Não sei como é o relacionamento com o atual governo, porque eu não sei, eu não convivo. Mas a expectativa de relacionamento com o próximo governo é de um diálogo franco, aberto, apto a receber sugestões e críticas também. Eu sou parlamentar e também recebo. Isso é natural, é normal. A gente tem que filtrar o que interessa e o que não interessa descarta, joga no lixo. A Assembleia teve uma renovação de aparentemente 50% e foi uma renovação, a priori, com bons nomes. Nomes já testados na vida pública, outros debutantes, como eu, que estou chegando, mas para fazer uma análise bem profunda e crítica é preciso ver o trabalho in loco para lá na frente a gente fazer uma avaliação. Eu particularmente estou muito animado, não sei se é por causa da juventude, ou se porque a gente está chegando agora, como principiante. Mas no meu caso específico, em Cachoeiro, como vereador com 1221 votos , segundo mandato 2.032 votos, terceiro mandato de vereador 4.070 votos, por quê? Eu procurei na minha vida pública a experiência que eu vivi na iniciativa privada. São situações antagônicas, mas você tem como aplicar alguns procedimentos, alguns princípios. A lei é diferente, mas a atitude do gestor, do governante, ela pode ser aplicada. Você fazer o planejamento, você delegar o poder, cobrar responsabilidade, traçar um foco, atingir uma meta. Eu trabalho muito com isso.

- E em relação à bancada do PR? Já houve algum encontro, alguma orientação sobre a postura dos deputados na Casa? O PR tem uma característica de não ser muito centralizador, de dividir o poder, possibilitar o crescimento de suas lideranças...

- Nós tivemos apenas um encontro, um contato com a bancada, mas foi mais um contato cordial para bater um papo, para criar uma aproximação, até porque eu conhecia o deputado Vandinho. José Esmeraldo e Gilsinho Lopes eu passei a conhecer agora também. A não ser de ouvir falar. A gente já percebe que são perfis diferenciados, mas a bancada está unida. Tanto Neucimar Fraga quanto Magno Malta têm pregado isso, o sentimento de unidade, apesar dos pensamentos divergentes, mas a bancada está unida, porque a realidade dos deputados é da Grande Vitória e a minha é do interior.

- Hoje o partido tem a comissão de Educação da Casa. Vocês pretendem manter isso, reivindicar outras?

- Não discutimos ainda internamente em relação à manutenção ou não, à escolha de novas comissões. Mas uma certeza nós temos: a gente quer participar do processo . O PR quer o espaço dele, para mostrar à sociedade que o partido tem nomes com preparo, com competência para discutir assuntos, termos de importância para o Estado em várias áreas. O Vandinho desempenhou muito bem a função dele na Comissão de Educação. Eu tenho uma atuação muito grande na área de saúde e de agricultura. Já fui secretario municipal das duas pastas. São áreas que eu gostaria de participar, de contribuir, de aprender, de dar sugestão. Nós temos o Gilsinho, que tem uma experiência muito grande na área de segurança pública. O PR tem nomes que podem contribuir e queremos o nosso espaço para dar nossa parcela de contribuição, sem confrontar com qualquer partido, porque cada um é digno de seu espaço. Com conversa, com tolerância, cada um vai ter sua área de trabalho, com amplitude, e o nosso foco é o Estado. Eu não posso mais ter uma visão local, nosso foco tem que ser regional e aí temos um campo muito amplo para trabalhar.

- E a eleição da Assembleia, o senhor já foi procurado para discutir o assunto?

- Não. Ainda não. Nós tivemos apenas um encontro com o governador, foi no período pos-eleição no primeiro turno. Apenas pediu que o partido, como fez parte da base do presidente Lula, se empenhasse na eleição da Dilma. Uma conversa que trilhou esse caminho aí. Mas não houve conversa interna no partido para discutir se o partido vai indicar um nome para a Mesa ou não vai. Talvez isso possa até ser feito no início de dezembro, porque nós vamos ter um encontro nacional em Brasília de todos os candidatos eleitos do PR, mas isso ainda não foi discutido, não.

- E como está o PR no sul do Estado?

- O Neucimar está me delegando uma função muito importante de reestruturar o PR e o PRB na região sul. De criar musculatura, preparar esses partidos efetivamente, tecnicamente e politicamente, rumo às eleições de 2012. O Neucimar está me delegando essa responsabilidade e vamos fazer isso. Quero, dentro da estrutura que eles me derem ou não, fazer esse trabalho visando ao fortalecimento do nosso partido para eleição no sul do Espírito Santo.

- Como você vê a gestão do Casteglione em Cachoeiro?

- Eu vejo a pessoa do Casteglione como uma boa figura, que tem boas intenções, só que não adianta você ter boas intenções para governar, para ser gestor, para ser administrador. Em primeiro lugar, você tem que ter, no mínimo, noção de administração, para você saber que você não é comandado e sim comandante. E, para você ter comandado, você tem que ter comandado preparado, não adianta fatiar demais o bolo e colocar gente despreparada em algumas funções que não vão dar conta do recado. E o que está acontecendo hoje em Cachoeiro é má gestão, má administração. Existem alguns focos que eu não concordo com a administração petista. Respeitar é uma coisa, concordar é outra. Cito um exemplo aqui: o Orçamento Participativo. Eu não sou muito a favor da disputa acirrada entre os bairros. Um bairro ganha uma quantidade maior de eleitores no dia da votação da escolha de obras e o outro que fez um esforço danado não ganha. Eu sou a favor do OP bairro a bairro. Relacionamento deles com a Câmara Municipal não existe. O relacionamento é muito ruim. É muito fraco. Quem está hoje fazendo o elo pode ser uma boa pessoa. Não vou entrar nesse mérito, mas não existe relacionamento político. E ninguém governa sozinho.

- O regime é parlamentarista...

- Exatamente. Não tem essa. O prefeito vai governar porque ele quer melhorar a qualidade de vida da população. Ele quer deixar as farmácias, mas e o vereador? Ele quer participar, porque ele foi eleito. Ele não quer ficar só nessa de apresentar leis e fiscalizar o Executivo, ele quer participar efetivamente de uma inauguração, de uma obra...Não vou dizer que o vereador é assistencialista, mas o OP foi um dos entraves para esse relacionamento. Também é um problema gravíssimo, tanto que relacionamento de Câmara hoje com o Executivo não existe. Mas qual será a minha postura a partir do ano que vem? Eu respeito o governante que está ali, mas para mim poderia ser qualquer um, seria indiferente. Eu fui eleito deputado e eu não estou olhando o time de futebol dele, a gastronomia preferida do prefeito, a cor partidária dele, qual a igreja. Eu tenho um compromisso com Cachoeiro. Logo após a posse, eu vou ligar para a prefeitura e pedir uma audiência com ele, porque o meu perfil é diferente. Eu não tenho compromisso político-eleitoral com o atual prefeito. Eu posso ter um compromisso político-administrativo com a minha cidade, por intermédio dele ou não. E eu vou ter.

Entrevista publicada no século diario.



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