Uma pequena papelaria localizada em São Torquato, Vila Velha, foi uma
das empresas que forneceram notas frias para o desvio de recursos do
dízimo doado por fiéis. O esquema foi montado na cúpula da Igreja Cristã
Maranata com o envolvimento de pastores, fornecedores e diáconos. A JE
Scabelo – cujo nome fantasia é Papelaria União – vendeu à igreja R$ 941
mil em materiais que nunca foram entregues.
A afirmação está no
texto da ação movida pela Maranata, que corre em segredo de Justiça na
8ª Vara Cível de Vitória. “Nos exames que fizemos dos livros de entradas
de 2009 e 2010, não se verifica a entrada dos produtos. Podemos
concluir tratar-se de notas fiscais fraudulentas”, diz um trecho da
ação.
Pequena
O
estabelecimento é descrito pela igreja como uma pequena papelaria. Ela
está ainda na lista das empresas que teriam fornecido as notas fiscais
frias que viabilizaram o desvio, fato apontado pela auditoria externa
que apura o tamanho do rombo e também pela investigação que a própria
Maranata realizou.
Uma das pessoas que prestaram depoimento na
investigação da igreja foi Elionay Lopes Scabelo, filho do dono da
papelaria, José Eloy Scabelo. Ele diz que as notas fiscais eram
emitidas a pedido de Antônio Ângelo Pereira dos Santos, vice-presidente
afastado da igreja. O argumento era de ajudar aos “irmãos” no exterior e
custear viagens a outros países.
Elionay afirmou ainda
que o valor das notas que foram emitidas era determinado pelo próprio
Antônio Ângelo. E mais: era ao vice-presidente que o dinheiro era
entregue, deduzido o valor referente aos impostos. “Garanto que isso
ocorreu no máximo umas seis vezes”, afirmou o filho.
Estimativas
iniciais indicam que o rombo causado pelos desvios pode superar os R$
21 milhões. A igreja já solicitou o ressarcimento de R$ 2,1 milhões.
Além de Antônio Ângelo, também foi apontado como cabeça do esquema o
contador e diácono Leonardo Meirelles de Alvarenga.
Resposta
Procurado
na tarde de ontem, o proprietário da papelaria, José Eloy, se irritou e
disse que não falaria sobre o assunto. Já a Maranata, por intermédio de
sua assessoria, informou que os relatórios parciais da auditoria
externa indicam que a Papelaria JE Scabelo – conhecida como Papelaria
União – nunca forneceu material para a igreja.
Fundação levou verba federal
Além
de recursos públicos estaduais, a Maranata também recebeu verbas
públicas federais. Juntas elas totalizam R$ 2,1 milhões. O deputado
federal Carlos Manato (PDT), também utilizou a cota de emendas
parlamentares, de 2008, para doar R$ 300 mil à Fundação Manoel dos
Passos Barros, que pertence à Maranata. Ele é membro da igreja. Na
quinta-feira, a RÁDIO CBN e o jornal A GAZETA informaram que
parlamentares estaduais haviam doado R$ 1,8 milhão à fundação, entre
2005 e 2011.
Manato afirma que o dinheiro serviu para atender a
um programa de tratamento de câncer. Em 2006, o parlamentar chegou a
indicar a destinação de R$ 250 mil, que acabou não sendo autorizada pelo
Ministério da Saúde porque a fundação não apresentou a documentação
necessária.
Nesta semana, Manato utilizou a tribuna da Câmara
dos Deputados para defender a igreja. “Não podemos nos deixar contaminar
por três ou quatro pessoas que cometeram delitos. A igreja teve uma
atitude exemplar e já tomou todas as providências”, disse.
Maranata discorda de título de matérias publicadas na quinta e na sexta-feiras
A
Igreja Cristã Maranata enviou nota à redação de A GAZETA para
manifestar sua discordância em relação às manchetes publicadas na
quinta-feira (Assembleia deu quase R$ 2 milhões à Maranata) e na
sexta-feira (Líder da Maranata contratou sobrinho por R$ 23 milhões).
Diz
a igreja: “Os recursos oriundos de emendas de deputados estaduais foram
destinados à Fundação Passos Barros e não à Igreja Cristã Maranata. Tal
prática é legal e legítima e beneficia inúmeras instituições que
realizam trabalhos sociais em todo o Espírito Santo”.
A nota diz
ainda que a atuação e constituição jurídica da Fundação, “apesar de
ter sido criada dentro da Igreja e receber recursos da mesma” é
completamente independente, sendo obrigada a prestar contas, como todas
as fundações, ao Ministério Público.
Quanto à manchete de
sexta-feira, a igreja diz que o presidente da denominação não assina
contratos com fornecedores e nunca determinou a contratação de qualquer
tipo de serviço ou empresa.
“A contratação de serviços se dá através
de pesquisa de mercado e tomada de preços, obedecendo o critério de
menor custo/benefício”, diz a nota.