De caixote em caixote
Magno puxa Dilma e corta sonho de PH na Petrobras
Rogério Medeiros e Nerter Samora
Século Diário
O governador Paulo Hartung voltou a utilizar a famosa rede de boatos nesta semana. Espalhou que será candidato a prefeito de Vitória. O que poderia ser uma ameaça ao prefeito de Vitória, João Coser (PT), pode ficar pelo caminho logo no início. Já que o principal trunfo seria a vitória da presidenciável Dilma Rouseff, puxada pelo senador Magno Malta (PR). Quais serão as verdadeiras intenções da rede de boatos do governador? Como lidar com o fracasso da chapa clandestina ao Senado e o fortalecimento do republicano? Este Papo de Repórter projeta os acontecimentos do pós-Hartung e ainda crava o fim de uma grife política.
Rogério: – PH não prega prego sem estopa. Quando ele quer atingir um objetivo, ele sabe aonde recorrer. Ele sabe quem pode atendê-lo. Vou contar um caso interessante. No meio dessa semana, ele chamou o vereador de Vitória Zezito Maio(PMDB), maior distribuidor de boatos e situações novas na classe política, e ficou fazendo a cabeça dele por mais de uma hora. Zezito saiu do encontro falando que o governador era candidato á prefeito de Vitória. Como o Zezito não tem sentido de cautela na vida dele, saiu dizendo que o Paulo é o sucessor do prefeito João Coser (PT) em 2012. O vereador chegou ao ponto de usar a tribuna da Câmara para divulgar o furo. Pois bem, depois disso a gente tem que interpretar as intenções do Paulo. Eu confesso que já fiz mestrado, doutorado e já estou fazendo o pós-doutorado em PH. Isso é um recado para Coser. Ele está dizendo o seguinte: para apoiar a presidenciável petista Dilma Rouseff, quero ser diretor da Petrobras. Ou então vou azucrinar a vida do PT na eleição de Vitória.
Nerter: – Fica claro que as eleições de 2010 nem começaram direito e o governador já está antecipando os movimentos de 2012. Mas só antecipa enquanto está com a regra do jogo, porque depois que ele for para a planície vai ser diferente. Vejo que ele quer descer as escadarias do palácio Anchieta com a certeza de que elegeu a Dilma no Estado e ainda sair com um ás: a promessa de um cargo na Petrobras. Acho que você está certo na leitura desse recado.
Rogério: – Só que o governador deu azar porque a Dilma não precisa dele mais para ganhar no Espírito Santo. O senador Magno Malta (PR) correu o Estado duas vezes, e como ele é ágil, tratou de levantar a Dilma por conta dele. E conseguiu. O que acaba atravessando o caminho de Paulo Hartung. O que o governador estava fazendo com seu grupo? Não deixava ninguém botar uma palha na fogueira da Dilma e deixando o presidenciável tucano José Serra crescendo. Então o Serra cresceu com uma velocidade absurda, chegando a ter 17 pontos de frente, mostrando que havia necessidade de um socorro. Se você se lembra, o ex-ministro José Dirceu esteve aqui no Estado em um longo encontro com o Paulo para tratar da questão da Dilma. Relacionou todo o pessoal do Paulo – quando o vice Ricardo Ferraço (PMDB) ainda era o candidato ao governo e ia de vento em popa – e mostrou que não estavam fazendo nada para Dilma. O José Dirceu cobrou e aí surge a fórmula Renato Casagrande (PSB), que era uma forma de fazer um ajuntamento para salvar a Dilma no Espírito Santo.
Nerter – Nesta fórmula, o governador tentou mais uma vez atravessar a classe política e chamou para si à autoria de tal invento. Tudo vinha dando certo até que o tal desse Magno surge para estragar mais uma vez essa fórmula. Porque não só deu conta do resgate de Dilma como também de todos os atores envolvidos é o único com a eleição praticamente garantida. Enquanto o candidato palaciano Ricardo Ferraço, de favorito ao governo, agora corre o risco de ficar até fora do Senado.
Rogério: – Não, você tem que entender que neste caso o Paulo perdeu foi a vez. Porque, se você se recorda, o projeto do governador era liquidar o Magno, mas como ele não seria o candidato, queria usar seus mecanismos para eleger uma chapa clandestina com Ricardo Ferraço e a deputada federal Rita Camata (PSDB). Ele não esperava que com todo esse poderio dele, que eu acho às vezes muito artificial feito pela mídia corporativa... então, ele, delirando, achando que é o próprio Deus – embora quem tenha o Ministério Público em uma mão e o Judiciário na outra se ache com todo direito de flertar com Deus – achava que seria fácil liquidar o Magno. Na verdade, ele quebrou a cara.
Nerter: – Realmente. O Magno é povão. É só deixar um caixote e um microfone na mão que ele toma conta do voto. Diferente do Paulo. que precisa destruir os outros, enganando a população, vigiando a classe política. para não falar das debilidades de sua gestão... precisa ainda de armar uma claque para bater palmas como o maior dos políticos, como acontece na Assembleia, a ponto do experiente Elcio Álvares (DEM) passar o tempo todo como uma dama embevecida, apaixonada pelo governador como se fosse a coisa mais perfeita que o Estado já produziu. Então precisa de tudo isso para ter uma imagem positiva. Já o Magno não, sobe no caixote, pega o microfone e leva todo mundo. De caixote em caixote, de lugar e lugar, ele levou a Dilma a ser favorita no Estado.
Rogério: – Então, você está concordando com essa jogada agora do Paulo, de dizer que é candidato a prefeito de Vitória. Chama atenção que o governador nunca fala por ele mesmo, sempre há alguém falando por ele. Isso perdura durante os oito anos de governo. Ele conhece esse tipo de mecanismo. Quando ele precisa ganhar áreas setorizadas, como Vitória, ele pega o Zezito Maio. que faz bem esse processo de camelô, vendendo o peixe do Paulo. E você há de convir que ele faz bem esse papel. Ele tem a cara do camelô. Então, meu amigo, ele planta para criar discórdia porque no sistema de poder da Grande Vitória, se o Vidigal é dono da Serra, o Coser é dono de Vitória. Só que o petista tem agora de negociar essa posse de Vitória.
Nerter: – Mas se ele não conseguir? Já que terceirizando essa declaração de interesse ele não perde nada caso o boato não vingue...
Rogério: – Boato sempre tem os seus efeitos. O Paulo sabe lidar com eles. Tem um monte de vítimas, ele tem os especialistas em espalhar boato. É da mecânica dele. Ele é criativo, cria boatos como esse de ser prefeito de Vitória em 2012. Se não tivesse dos efeitos, ele não utilizava. Ninguém é mais criativo do que o Paulo, ninguém é mais perverso ou ardiloso do que ele. O governador pode ser comparado ao senhor de engenho cercado de grandes jagunços que fazem o serviço para ele. Quando é que você vê o Paulo falando? Só vai à imprensa corporativa dizendo que salvou o Espírito Santo, mas fala isso com as masmorras nas costas dele, algumas centenas de mortes pela falta de policiamento ostensivo. O Paulo é na verdade um artista de fazer inveja a um Paulo Autran. Em matéria de cena, PH dá de dez neles. Se bem que depois dessa experiência no governo, ele poderia migrar para o teatro brasileiro. Iria fazer sucesso.
Nerter: – Bem que ele poderia seguir esse caminho, já que. falando de atores... neste período de entrada no pós-Hartung, muitos atores políticos apareciam bem relacionados, mas deles está cada vez mais forte, o próprio Magno. No período que se falava em 2014 antes mesmo de 2010, a classe política falou muito do Coser, no Vidigal, mas hoje o grande indutor de votos é o senador. Com a sua bandeira da pedofilia, com o poder no microfone na mão e até mesmo com essa prova de fogo que foi reverter a situação da Dilma no Estado, onde os tucanos sempre levaram vantagem, ele se transformou na estrela dessa eleição. Sem o Paulo como candidato, o Magno vai aproveitando e bem esse espaço.
Rogério: – Agora imagina como não deve estar se sentindo o Paulo. Alguém vindo lá de cima, uma vila chamada São Miguel do Bom Viado, hoje Guaçuí, uma região hoje capixaba que foi colonizada por representantes da burguesia paulista. Terra do ex-governador Francisco Lacerda de Aguiar, o Chiquinho, embora a família venha das barrancas de Iúna, este também nasceu por lá. Como deve se sentir ao ser atropelado por um baiano, caso do Magno, que ninguém sabe da sua origem e que no gogo vai engolindo ele.
Nerter: – Não deve ser fácil...
Rogério: – Agora o que eu acho interessante é que o Paulo programou uma chapa clandestina. Agora caiu no colo dele mesmo é de quem ficará com o segundo voto da população. Quem o governador vai eliminar? Ele passou a chapa clandestina para a prefeitada toda, só que eles sabem que não adiantar passar os dois, porque o povão vai dar o primeiro voto para o Magno. E o segundo fica com Rita ou Ricardo? O governador vai ter que abrir mão de um.
Nerter: – Ele já pregou uma peça no Ricardo, que estava com a vitória na mão para ser governador... será que vai derrubá-lo mais uma vez? Ricardo vai perder noites continuas de sono até 3 de outubro...
Rogério: – Você tem razão. Eu não queria estar na pele do Ricardo. Veja o caso da Rita... ela tem como marido o senador Gerson Camata, uma grife política – embora tenha perdido muito do brilho –, que vai dar muito voto para ela no interior. Já que a grife perde brilho, mas o Camata continua sabendo falar com o eleitorado do interior. Então não adianta o Magno ficar empurrando o Ricardo, porque o Magno conquista o voto para ele, Magno, na emoção. E agora o Ricardo vai ter que mostrar condições para ganhar da Rita? Quem o governador vai apoiar? Dou um doce para quem descobrir. Toda vez que o governador dorme, ele deve ver a imagem do Theodorico Ferraço e pensar que não vai dar o gosto de fazer o filho dele senador. Se o Paulo não botar a mão em nenhum dos dois, o segundo voto vai ser decidido na Grande Vitória. Se vai ser decidido na GV, eu não arrisco a dizer quem ganha. Só chamo atenção para o seguinte: é uma decisão que vale carreira política. Se o Ricardo perder, o ferracismo está perdido. Se Rita perder, o camatismo está extinto. Eles jogam o destino deles.