A disputa eleitoral para o Palácio Anchieta em 2010 tem pelo menos três pré-candidatos definidos: Brice Bragato, pelo P-SOL; Luiz Paulo Vellozo Lucas, do PSDB; e Ricardo Ferraço, pelo PMDB (aqui dispostos em ordem alfabética). Mas até outubro do ano que vem esse cenário pode mudar: é que até lá o PSB decide se lança o senador Renato Casagrande na corrida. Essa decisão deve ser tomada até abril e ser for favorável à candidatura, encontrará apoio no desejo do parlamentar, que não esconde a vontade de chegar ao posto máximo do Executivo Estadual: "eu tenho, intimamente, esse objetivo".
Confira a entrevista na íntegra:
Folha Vitória - O partido do senhor participa do governo Paulo Hartung e, portanto, é também responsável por ele. O senhor gostaria de fazer uma avaliação nesse final de ano: o que melhorou e o que ainda precisa de maior atenção?
Renato Casagrande - Nós somos parceiros do atual governo e do governador Paulo Hartung. Em 2002, o governador se elegeu e de lá para cá nós temos colaborado permanentemente, tanto compondo o governo, quanto na Assembléia Legislativa, como no Congresso Nacional. Eu, primeiro como deputado federal, depois como senador da República. Desde 2003 tenho colaborado com a implantação do novo modelo de gestão que tirou o Estado daquela situação de penumbra que vivia. Daquela gestão inadequada, que envolvida tantas denúncias, para um governo que equilibrou as finanças públicas e construiu estabilidade para atrair investimentos e conseguir investir. Nós estamos já há algum tempo vivendo uma situação diferente no Estado. E diferente para muito melhor. O que comprova o sucesso do governo de que somos parceiros. Parceiros no sentido de termos contribuído diretamente com o processo. Então a avaliação que temos de sucesso é a capacidade que o governo conquistou em agregar todos os partidos em torno de um projeto que pudesse alterar a imagem do Espírito Santo, trazendo equilíbrio, capacidade de investimento e de capacitação de recursos.
Folha Vitória - E o que precisa de mais atenção dos próximos governos?
Renato Casagrande - Nós temos muita necessidade de melhorar, é claro. Não há projeto que possa resolver todos os problemas de um estado de uma só vez. Ainda mais na situação em que nós encontramos no Estado e considerando o passivo que temos com a sociedade capixaba. Então, nós temos muito ainda o que fazer no Espírito Santo. E esse "muito que fazer" não significa que esse futuro está garantido, mas o que fazer pós-governo Paulo Hartung está de alguma forma contratado. Temos o Plano Estratégico 2025, que orienta os investimentos especialmente em relação ao desenvolvimento social através do econômico. Nós temos necessidade de investimentos em infraestrutura e políticas sociais e temos um plano elaborado por alguns segmentos do Estado que precisa ser considerado. Existem metas para ser alcançadas. Mas ao mesmo tempo temos que incorporar outras entidades nesse debate para que possam também faze parte desse grande projeto. Temos necessidade em dar continuidade aos investimentos em áreas sociais, como de segurança pública, especialmente no combate às drogas e na recuperação de pessoas viciadas. Precisamos dar continuidade nos investimentos na área da saúde, que ficou um bom tempo sem investimento em infraestrutura e pessoal. E os investimentos em educação, para dar oportunidade à nossa juventude. Isso seja em educação infantil, básica, tecnológica ou superior. Qualquer partido que deseje entrar na discussão do processo eleitoral tem que ter propostas concretas para essas áreas. Mesmo que não tenha candidato próprio ao governo, que queria somente apresentar apoio.
Folha Vitória - Nesse ano, um assunto que norteou os trabalhos do senhor foi o Aeroporto de Vitória. É possível apontar um culpado para a interrupção nas obras?
Renato Casagrande - A culpada é a gesta inadequada da Infraero. Não tem outro culpado. Contratou-se uma obra sem o projeto executivo, sem detalhamento de planejamento. Foi encontrada suspensão de preço, não houve entendimento entre Infraero e consórcio, precisou ser reincidido contrato e agora estão sendo elaborados os projetos. A culpa é da estrutura pública que tem o dever de fazer a gestão dos aeroportos do Brasil. Fez os contratos sem a devida preocupação. Nosso trabalho agora é para encontrar caminhos e temos acompanhado isso permanentemente para resolver a questão do aeroporto, que é um símbolo que não representa o potencial do nosso Estado.
Folha Vitória - O senhor acredita que o governo estadual poderia ter intervindo de forma mais incisiva nesse caso, como fez no caso do pré-sal?
Renato Casagrande - O governador se envolveu e a bancada também se envolveu. Todos nós nos envolvemos. O que não faltou foi envolvimento e ação. Faltou a condição de resolver a situação da parte de quem podia resolver. Quando uma obra desse porte começa de forma errada, demora tempo para consertar. Agora, os procedimentos já foram retomados. Os projetos da torre de controle e do Corpo de Bombeiros estão sendo executados. No início do ano que vem as obras serão retomadas. O convênio com o Exército já foi feito e será ele que vai tocar grande parte da obra. O cronograma está traçado para que as diversas ações possam ser desenvolvidas paralelamente.
Folha Vitória - O senhor é favorável à venda do Banestes, mesmo que seja para incorporação a um banco federal?
Renato Casagrande - Nós fizemos um grande movimento durante o governo anterior ao de Paulo Hartung para preservação do Banestes público. E hoje ele é um grande instrumento de aplicação de políticas públicas. É mais do que natural que Banestes continue público, eficiente e dando resultado positivo. E que os resultados positivos do banco sejam aplicados em benefício da população. Então, eu defendo um banco público e eficiente. Sobre a incorporação, a tentativa com o Banco do Brasil já não deu certo, então o que precisamos é fortalecer o banco estadual. A conjuntura a cada momento faz reflexão a essa situação. O que defendemos e manter o Banestes público.
Folha Vitória - O senhor já falou em eleições e eu gostaria de voltar ao tema. O PT anunciou apoio ao projeto do PMDB ao Governo do Estado mais de um ano antes das eleições. Como o senhor avalia essa antecipação?
Renato Casagrande - Eu acho que a antecipação exagerada do processo é ruim para a democracia. Os detentores de mandato passam a discutir eleição em um momento em que as prioridades precisariam ser outras. Disparar o processo das eleições muito cedo toma conta dos gestores e detentores de cargos públicos muitas vezes impedindo ou dificultando trabalhos mais específicos que poderiam impactar de imediato a vida do capixaba. Outra questão em relação à posição dos partidos é que eu acho que quando você se antecipa de mais em tomar uma posição, você deixa de fazer os debates necessários e, assim, o partido se furta de cumprir o papel natural dele, que é promover debates de propostas que estimulem a qualidade de vida da população. O partido se omite na obrigação de não ser um agente de construção de propostas. Mas a posição do PT é interna, não me cabe fazer nenhuma observação ou juízo de valor. É uma posição legítima tomar essa decisão. Só não acho benéfica para o Estado. Por isso meu partido, que já tinha ajustado cronograma com principais partidos de que tomaríamos decisões no primeiro semestre de 2010, mantém esse posicionamento. Se queremos apoiar alguém ou ter candidatura própria, temos que ter propostas. Por isso, precisamos desenvolvê-las. E faremos isso debatendo. Temos que ter propostas para justificarmos um apoio ou uma candidatura. E, no mais, as decisões tomadas hoje podem nãos ser as mesmas de amanhã. Poderá haver um novo quadro político. As eleições são em outubro de 2010. Ainda estamos em 2009.
Folha Vitória - Na última convenção do PMDB, o pré-candidato Ricardo Ferraço fez ataques fortes ao PSDB, que é partido do também pré-candidato Luiz Paulo Vellozo Lucas - obviamente, já visando às eleições. O senhor acompanhou o caso?
Renato Casagrande - Eu acompanhei esse caso somente pela imprensa. De fato, ninguém pode imputar ao atual PSDB a responsabilidade direta do governo José Ignácio Ferreira. Hoje quem está à frente do PSDB são pessoas que sempre estiveram ao lado do governador Paulo Hartung. Tanto que secretários do PSDB compõem o governo atual. Não dá para colar a imagem daquele governo à atual direção do PSDB. Esse é o meu ponto de vista, sem querer me envolver muito em tema de que não me cabe.
Folha Vitória - Até o momento os dois principais pré-candidatos colocados se apresentam como personagens da continuidade do que vem sendo feito. O senhor acredita que essa é o único posicionamento possível?
Renato Casagrande - Não é que seja o único posicionamento possível. Ferraço e Luiz Paulo são historicamente muito ligados ao governador Paulo Hartung. E o PSB, caso consolide minha candidatura, está no projeto de Hartung desde 2003. Qualquer discurso que não seja de consolidar os avanços que tivemos não soa como verdadeiro. Não representa a história presente do Espírito Santo. O que teremos nas eleições é a população avaliando quem tem competência, história e cria uma expectativa maior de avançarmos no nosso Estado. Não é discurso de oposição que vai ser diferencial. Os partidos terão que apresentar solução para questões de fragilidade que inda não foram resolvidas. O governo atual foi uma etapa importante para o Espírito Santo. O governador conseguiu um discurso político que uniu todos contra a prática política ultrapassada que havia no Estado. Teve uma âncora que agregou a grande parte dos partidos em torno de um único projeto. O próximo governador terá uma facilidade administrativa maior, já que pegará um governo equilibrado, diferente do que Hartung assumiu quando eleito, mas terá mais dificuldade na área política para enfrentar as divergências que pode ter na Assembleia e demais instituições do Estado. A facilidade de Hartung será a dificuldade do próximo governador. Por isso é importante a população verificar o conjunto das forças políticas em torno do próximo projeto. Isso é que mostrará se teremos ou não retrocesso na política do Estado.
Folha Vitória - O senhor tem vontade de algum dia chegar ao Palácio Anchieta como governador?
Renato Casagrande - Uma liderança política, de qualquer estado, quando tem uma carreira política e se dedica à atividade política integralmente, tem como objetivo chegar ao Governo. Para muitos é assim. Eu tenho, intimamente, esse objetivo. Acho que, sem nenhuma arrogância, os mandados que exerci e o resultado que tive me preparam para estar em algum momento pleiteando essa atividade nobre de representar no poder executivo no meu Estado. Mas não existe nenhuma ansiedade. Em qualquer função que eu estiver, com ou sem mandato, estarei exercendo com muita vontade. Não quero chegar a algum cargo de qualquer maneira e qualquer forma. Em hipótese alguma. O desejo é um desejo de qualquer ser humano que tem na vida política um comportamento de sacerdócio, de envolvimento e engajamento. De gostar de atender as pessoas.
Folha Vitória - Quando o senhor pretende bater o martelo e decidir se será ou não candidato?
Renato Casagrande - Quem vai bater o martelo é o PSB, ouvindo outros partidos, outras lideranças e discutindo com as lideranças nacionais. Temos um prazo até junho, mas acho que até março ou abril o partido já terá tomado uma decisão. Mas o importante é ter alternativas para a população capixaba e o partido fará essa discussão com tranquilidade, sem espírito aventureiro.
Folha Vitória - A candidatura do senhor está atrelada à do deputado federal Ciro Gomes à Presidência?
Renato Casagrande - Pode ser que sim e pode ser que não. O quadro nacional também está em formação. Vamos ver a posição do partido em nível nacional. Hoje o PSB trabalha com a candidatura. Mas a minha não tem vinculação direta, mas tem certa dependência.
Folha Vitória - Graças à antecipação do processo eleitoral, a maior parte dos partidos políticos já está comprometida com algum projeto no Espírito Santo. O senhor acredita que isso inviabilizaria o projeto do PSB?
Renato Casagrande - Isso o partido vai decidir na hora adequada. O partido está conversando com diversos partidos. Poderá fazer essa avaliação em um momento adequado. Não vamos sofrer por antecipação. Vamos viver cada dia. A posição que o partido adotou no Estado tem dado uma grande contribuição. Ninguém pode se tornar governador do Estado se não passar por processo de debate e até de testes. E a expectativa do PSB cria esse ambiente. É o debate que demonstra e expõe: que deixa o candidato exposto. Se alguma liderança não se expõe o necessário em uma campanha e muitas vezes isso pode fazer com que a população compre gato por lebre. O PSB, com a posição que adotou, está fazendo todos se exporem ao debate: atravessar a chapa quente e verificar quem resiste.
Folha Vitória - O senhor julga os outros dois pré-candidatos capazes de assumir o governo?
Renato Casagrande - É difícil fazer avaliações de outras pessoas. Mas elas estão contribuindo com o processo atual. Os dois têm contribuições importantes e têm características individuais que estão contribuindo para o sucesso do projeto implantado no Estado. O que vai definir para a população quem é mais adequado é o processo de debate e construção de propostas.
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